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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

CRIANÇAS DISCUTEM MUDANÇAS CLIMÁTICAS NO BRASIL E NO MUNDO

Começa hoje (6) o encontro “Mudanças Climáticas: nossa vida está em jogo”, que reúne no Centro Cultural de Brasília 35 crianças de vários lugares do país para discutir efeitos das mudanças climáticas em todo o Brasil. O evento realizado pela Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) terá fechamento no dia 8 quando as crianças, que tem de 11 a 16 anos, irão ao Congresso Nacional pela manhã para participar de uma reunião com a comissão de meio ambiente.
De acordo com o organizador do encontro Adriano Martins, as crianças de comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, sem-terra, do semi-árido, das grandes cidades, Cerrado e Amazônia, foram selecionadas de acordo com a diversidade cultural e étnica. “Nossa intenção, além de buscar diversidade foi o foco em crianças de comunidades que mais serão atingidas pelas mudanças climáticas”, afirma.
“A intenção de promover esse encontro é proporcionar um intercâmbio entre crianças e adolescentes para debater o impacto das mudanças climáticas em todos os estados no mesmo momento em que acontece a Conferência do Clima no México. Aqui, as crianças se reunirão para pensar o futuro. É importante lembrar também que essas crianças já tiveram uma certa preparação em seus estados para discutir o tema.” Conta o coordenador do evento.

domingo, 3 de outubro de 2010

Quilombolas têm 200 anos de tradição

Povoado de remanescentes de escravos luta para manter a história

Márcia Prado

Manter a história dos quilombolas viva e cultivar a agricultura existente há cerca de 200 anos. Esta é a intenção dos poucos quilombolas que ainda restam e mantém a tradição do povoado localizado na zona rural da Cidade Ocidental (GO). A área faz divisa com o Distrito Federal e com os municípios goianos de Luziânia e Cristalina. O povoado possui hoje cerca de 1,2 mil habitantes. Em 19 de maio de 2006, foi emitida a certidão que define as terras do bairro. O Povoado Mesquita existe há cerca de 200 anos e sua história está associada à uma doação de terras feita a três escravas da Fazenda Mesquita. A comunidade quilombola foi indicada pela Fundação Cultural Palmares, entidade vinculada à preservação de manifestações culturais afro-brasileiras, segundo a secretária da Associação de Moradores do Mesquita, Luza Costa. “Os trabalhos com a agricultura não são suficientes para manter a população. Como a localização do povoado é próxima à cidade, os moradores saem de casa pra trabalhar em casas de família, o que quebra a tradição que deveria ser mantida”, diz. Luza diz ainda que nem todo o povoado se reconhece como descendente de escravo. “A população foi ocupando pouco a pouco as terras que foram herdadas”, diz. Porém o governo federal tentará regularizar a situação para conservar a história do lugar. “Os remanescentes de quilombo continuarão com suas terras. Já aqueles que compraram terras nos últimos tempos terão que sair e receberão uma indenização, pois o governo quer manter a história do povoado que foi reconhecido há pouco tempo. Agora, apenas os descendentes de escravos terão direito as terras”, afirma. Mauro Melo é morador do povoado e pertence à segunda geração de quilombola. Com 84 anos de idade, Melo sobrevive do cultivo de marmelo e da produção do doce que aprendeu a fabricar aos 18 anos com os pais. Segundo Ângela Melo, esposa de Mauro, seus pais eram escravos. Os dois moram no povoado desde que nasceram, “As pessoas da cidade chegaram aqui e compraram uma boa parte das terras por um valor muito baixo”, afirma Ângela, que explica, ainda, que recebeu dos pais como herança dez alqueires de terra. Porém, hoje, sua propriedade não chega à metade do que era antes. Marcelo Melo é filho de Mauro e diz que o pai se revolta ao ver o desmatamento que acontece nas terras do povoado. “Há um tempo atrás a prefeitura vendeu um terreno para a construção de um loteamento, a construtora desmatou toda a área, o local onde foi autorizado o desmatamento pertence a comunidade quilombola”, diz ele. João Antônio Pereira, presidente da Associação Renovadora dos Moradores e Amigos do Mesquita (Areme), diz que a comunidade produz, há mais de 150 anos, marmelo e goiaba além de fabricar artesanalmente marmelada e goiabada seguindo a receita e modo de fazer herdadas das gerações anteriores, que ainda hoje preservam esta herança econômica, histórica e cultural. Os habitantes faziam seus produtos e vendiam em Luziânia (GO). Compravam o que não podiam produzir, vivendo assim até meados da década de setenta, quando começou a ocupação da região próxima ao povoado, Cidade Ocidental e Valparaízo de Goiás. O povoado tem eventos culturais como a festa do marmelo, a dança catira (tradição mantida desde o surgimento do povoado), bailes, além da tradicional festa do divino. A cultura do marmelo na comunidade Mesquita vem do século XVIII. Sabe-se que a tradição foi trazida por três escravas libertas, vindas de Portugal com a receita. Seus descendentes seguiram a fabricação artesanal da marmelada. As primeiras mudas de marmelo foram doadas por americanos para o Brasil, segundo a dona de casa e descendente da segunda geração Aparecida Pereira Braga. “Hoje em dia apenas quatro famílias vivem do cultivo de marmelo”, afirma.Adelina Pereira Batista pertence à terceira geração de escravos e organiza em sua casa a festa do Divino Espírito Santo. “As pessoas vêm em cavalgada da cidade até aqui, onde nós preparamos comidas”.