Pesquisar este blog

sábado, 3 de julho de 2010

“INVEJA E FAMA: É ISSO QUE A GENTE AMA” (a história de um pichador)

Márcia Prado



Uma das frases prediletas e criadas pelo garoto, agora com 20 anos mas, que entrou pro mundo da pichação aos 11.Época em que conheceu uma gangue e isso lhe subiu à cabeça. Aos 11 anos Tiago* conheceu um rapaz, líder de uma gangue que,na época ainda estava se formando. A GSL (grafiteiros sem lei), ele, então, junto com seu irmão de apenas 9 anos,entrou na onda da gangue que pichava muros e procurava brigas afim de divulgar a gangue e conseguir fama.
Em casa nada mudou. Ao saírem na madrugada pra fazer as pichações a mãe achava que eles estavam em festas ou jogando vídeo game na casa de amigos.
Foi nessa época que inspirado num biscoito que adorava (o Bono) ele criou seu nome artístico “BONOS”.
A partir de então todo dinheiro que tinha em suas mãos economizava com o intuito de comprar as tintas em spray, naquela época seu pai faturava bastante. Foi comprando latinhas de spray e colocando seu nome juntamente com o de seus colegas nas paredes da cidade que conseguiu uma fama rápida e duradoura, conseguiu também o amor de alguns e ódio de muitos (principalmente os que tinham os muros de suas casas e comércios rabiscados).
Junto com a fama veio também as intrigas por espaço, como os cachorros fazem , porém, ao invés de xixi usavam suas pichações com letras cada vez mais elaboradas para demarcar território. E com isso vieram as brigas, prisões e até mortes de amigos e inimigos.
Após mais ou menos 5 anos,em 2002 os doi amigos que eram os líderes da gangue foram presos (e estão presos até hoje) , então o terceiro líder dessa gangue (à essas alturas já conhecida em todo o DF e entorno, sem dúvida uma das maiores) que era o BONOS assumiu a liderança decidindo quem entrava e quem saía na galera. Conquistando assim mais fama ainda e inimigos então nem se fala.
Fato esse que facilitou sua vida amorosa e dificultou sua vida profissional.
Em 2006 começou a trabalhar em uma loja no shopping, certo dia seus inimigos descobriram. Não deu certo, aglomeraram-se na porta da loja e antes mesmo da loja fechar o “pau quebrou”.
Tiago* perdeu o seu emprego, mas isso não impediu de continuar com o vício de pichar pois a fama que isso lhe trazia era muito satisfatória. Desempregado, tinha mais tempo para reunir gsl’s de todo DF e entorno.As reuniões aconteciam na torre de TV e em cada uma delas compareciam cerca de 200 pessoas todas da gangue.
A essa altura ele já não precisava comprar suas próprias latas, sequer roupas, devido a fama e o poder, seus fãs que queriam entrar pra gangue em busca de fama lhe davam como espécie de pedágio tintas em spray, roupas, tênis de marca, e até mesmo dinheiro.
Durante todos esses anos ele esqueceu o futebol, teve um filho, o qual apelidou de bonym, dedicando a ele pichações. Graças ao filho o pai maneirou com esse negócio de gangue. Até porque foram incontáveis as pessoas que queriam sua cabeça. Que iam de simples rivais ao prefeito da cidade e quase todos os policiais. Em uma entrevista com ele, me disse ter parado ,apesar de que queria mesmo parar só com uns 35 pois alega querer sair pra pichar junto com o filho.
Ma Tiago* não tinha só defeitos era super carinhoso e, segundo a mãe até chora por ficar longe do filho. Ele é muito machista e de personalidade forte. Diz ela.
Apesar de conhecido e famoso no mundo da pichação no DF todo, ele vive uma vida normal apesar de alguns policiais até hoje estarem atrás de descobrir seu verdadeiro nome, coisa que poucos sabem.
Tiago* gostava de colocar frases polêmicas e provocativas em suas pichações como: ”Picasso morreu, agora o artista sou eu”. E “sua inveja é meu ibope”.
Só quem entende de pichação e já passou por isso entende por que esse garoto tão inteligente perdeu tantos anos da sua vida com isso chegando até a ser preso.
Hoje ele trabalha, fica com o filho nos fins de semana, mas sempre vai ser reconhecido e lembrado como BONOS.

Nenhum comentário: